sexta-feira, 31 de maio de 2013

Escovar dentes

Querido eu,
Você ainda odeia escovar os dentes no banheiro? Espero que você tenha melhorado nisso. De qualquer forma deixa eu te lembrar que você no presente momento, ainda se sente meio encarcerada por ter de ficar dentro do banheiro, mesmo gostando do banheiro, problema esse que não se repete com banho e outras necessidades. Mas escovar os dentes... E o pior é que você é muito ruim nisso. Não em escovar dente em si e sim escovar os dentes sem uma pia embaixo. Treco esquisito esse, não?
Espero que você tenha um banheiro bem legal com uma janela que permita que você se sinta livre. Ou você pode pegar uma bacia e fazer de pia portátil, mas isso dá trabalho.

domingo, 14 de abril de 2013

Mundo

Querido eu,
O mundo me assusta de um jeito devastador. É tanta intolerância, dor, vontade de sobrepujar os outros, de dizer que o outro é errado. Vontade de encaixar tudo no preto e no branco quando temos tantas facetas. Eu não agüento mais. Eu sei que é bobeira mas eu não sei conviver com tudo isso. Eu sou idiota demais, eu não agüento. Eu só quero colo e ficar longe das pessoas. Tem dias que isso é suportável claro. Sabe , eu pretendo me formar. Mas é muito difícil lidar com esse ódio acumulado. E que quando não é o ódio é só um desalento. Uma vontade de que tudo acabe. As pessoas não sabem pensar, não sabem argumentar, parece que o ego é maior que o planeta. Não conseguem ver um palmo a frente da própria realidade como se todos vivessem o mesmo modelo de família, de sociedade e só houvesse uma resposta certa. Quando na verdade não a quaisquer resposta correta.
Está perto do nosso aniversario. Quanto tempo faz que eu escrevi isso? Você se conformou? Eu me conformei e virei uma ovelha? Não quero ser uma ovelha. Não quero ter virado uma decepção para eu mesma.
Queria que houvesse outro mundo. Esse aqui não faz sentido para mim e faz minha cabeça doer. Não sei o que é isso que tem nos seres humanos, só sei que acho difícil considerar o adjetivo humano como algo positivo. Quero muito ir embora daqui. Por favor, tenha arranjado uma solução. E que seja em breve porque essa realidade está insuportável.
Atenciosamente,
RC

sábado, 13 de abril de 2013

Pausa

Querido eu,
Você se lembra como a vida costumava ser diferente? Em todos os sentidos? Como era se sentir sozinha, como era estar cercada de livros, como era se sentir tão segura? E ao mesmo tempo tão vazia?
São lembranças que você devia ter. Você devia se lembrar de quando você teve a idéia desesperada de querer ir na Igreja? Você queria se livrar de fantasmas, você queria fazer amigos. Você se forçou a retiros, você se forçou a se divertir, a viver. Não deu tão certo, não? No fundo você estava pior do que antes pois estava longe de si mesma.
Você se lembra dos seus primeiros amigos de verdade? Que mesmo assim as coisas não estavam bem? Você precisava confiar, mas você não era capaz. Em casa diziam: Não fale isso para ninguém o tempo todo. Como você poderia falar?
Lembra de como você queria que sua mãe pudesse estudar com você? Lembra como você estava morrendo de medo do novo colégio? De estudar a noite? Lembra que precisavam de você durante o dia? lembra de tudo que você queria fazer e não pode? Lembra que você ficava fazendo relatórios dos dias em casa? lembra como foi difícil ficar longe da Nath? Lembra de como você tava de saco cheio do MV1?
E de como o Newton era um lugar estranho? Como foi um ano tão diferente dos outros em todos os sentidos? Você se lembra do final daquele ano? Da crise, da cirurgia, da vida diferente em casa? E o CEFET? Você se lembra como foi receber a notícia? Você tinha acabado de saber que não havia passado pelo concurso interno e aí seu pai te ligou... Você se lembra mesmo? Porque foi muito importante. Porque você sentiu naquele momento que você era útil. E faz tanto tempo que você não se sente assim.

quinta-feira, 21 de março de 2013

São Paulo

Querido eu,
São Paulo é uma cidade tão magica e ao mesmo tempo tão caótica. Em muitos pontos se diz que é cidade para os novos, que assusta alguns. Me sinto seduzida por aqui, a vontade de me mudar é gigantesca, mesmo ciente dos defeitos da cidade. Ainda assim ela me atrai loucamente. Talvez seja fase, é provável que passe. Talvez seja só por causa da comida... Mas me parece tão divertido viver por aqui. Como se a cada dia pudesse ter uma novidade e ir pro trabalho fosse uma aventura. Gosto daqui. Preferia um bairro com mais coisas próximas mas ainda assim... Gosto Sá organização, gosto de estar no centro, gosto das opções, da muvuca, do metro lotado, dos sebos, da chuva, dos cheiros nas ruas, das pessoas de chapéu. Será que com o passar do tempo essas coisas perderam importância para nós? Será que mudamos muito? Será que você sente minha falta? Espero que você seja como meu eu de agora espera ser. E espero que SP não tenha se tornado apenas a cidade cinza de prédios grandes onde as pessoas só trabalham e não vivem.
Um abraço,
RC

sexta-feira, 1 de março de 2013

Amigos

Querido eu, você resolveu seus problemas de ansiedade social? Você já consegue fazer amigos decentemente? Espero que sim. Espero que onde quer que esteja, você tenha pessoas ao seu redor que gostam de você. E não porque você finge ser legal. Eu sei que você não é legal. Sem fingimentos. Quero saber se você tem alguém que quer se encontrar com você e que não te cause angustia e sim felicidade. Espero que tenhas alguém. Pelo nosso bem.
Com amor,
RC

(._.) Please, don't be alone.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Dificuldade de sonhar

Querido eu,
Ultimamente tenho tido uns sonhos bem desagradáveis. Na realidade, eles começam maravilhosos. Se eu nunca sonhava sobre mim, ultimamente eu venho aparecido bastante e estou sempre feliz e as coisas dando certo. Mas, sempre tudo é interrompido tão drasticamente. Como se eu não possuísse o direito de sonhar.
Já nos sentimos assim antes, lembra? De como era perder os dias a sonhar e imaginar e depois se sentir tão, mas tão pior... E a vontade de morrer sufocante para pelo menos livrar o mundo da nossa existência vazia. E são sonhos tão bobos, desejos de sucesso tão babacas. Não estou falando de ser dona do mundo, apesar de você saber mais do que ninguém como eu apreciaria isso. Só sonho com amigos, com ser feliz, com ser capaz de lutar e de viver. Não é muito, acho. E ao mesmo tempo é tanto. Eu só queria fechar os olhos e deixar de existir de uma vez, sinceramente. Não quero mais minha mente me castigando. Não quero mais esses sonhos ruins. Não quero ninguém se metendo na minha imaginação.
Mas, mesmo que não tenha ninguém para falar sobre as coisas na minha cabeça, mesmo que a solidão aperte, mesmo que uma palavra seja o suficiente para me destroçar, mesmo que as coisas voltem a ficar ruins quanto eram... Eu vou continuar. Eu sei disso. Você sabe disso. Porque...porque bem, somos nós. Nós sempre continuamos, mesmo depois que tudo acaba e nada vale a pena. Nem que seja pela curiosidade mórbida.
Te amo. Sempre.
-RC

Luz

Querido eu,
Tem faltado bastante luz esses dias. Bota bastante nisso. A sede da Copa de 2014 não consegue manter a energia. Brilhante, não? Em teoria o nível das nossas hidroelétricas está muito baixo por conta da falta de chuvas, mas fazer um racionamento não vale a pena, porque pega mal. Que lindo pensar nisso. Mas, como a escuridão ataca as áreas menos favorecidas, não é como se alguém ligasse. O Mah diz se sentir impotente diante disso. Não sei dizer como me sinto, só agradeço não estar tão quente. Você se lembra da época do apagão? Da falta de luz com chuva? De gritar com os trovões? Brincar de lego a luz de velas? Das histórias?  De pique-esconde no escuro? Espero que sim.

-RC

Helpless

Querido eu,
É engraçado como as vezes tudo dá errado. Essa semana não deu tudo tudo errado, mas muitas coisas deram. E outras foram divertidas. Só que dentre as coisas que deram certo, pouca coisa é realmente relevante. E entre as coisas que deram errado, quase tudo era importante. Bem, o que eu ia dizer é que é o nosso humor anterior aos acontecimentos que muda a maneira como o encaramos. Não pude ajudar alguém que eu amo muito ontem. Por incapacidade minha, falta de tato. Isso dói. E eu juro que por mais que deva ser óbvio o que fazer nesse momento não me aparenta ser nada fácil. Claro que isso acontece simplesmente porque não me encontro feliz. Porque sim, se eu estivesse feliz eu saberia o que fazer melhor e provavelmente, ele não teria ficado tão mal assim.
E ainda por cima eu não aguentava mais ficar acordada e isso é detestável. Só que realmente não me aguentava em pé. E nem, deitada. Queria ajudar mais quem eu tanto amo. Ia ser tão bom ver o sorriso dele e tê-lo feito ir dormir tranquilo, com um leve sorriso no rosto. Nunca soube fazer isso. Talvez seja isso que eu precise em 2013.
-RC

Aulas


uerido eu,As aulas recomeçaram e eu espero que seja o unico ano da minha vida na UFRJ a ter aula em Janeiro, no Rio de Janeiro. As temperaturas ainda não baixaram, esses quase 40 graus todos os dias faz com que eu me sinta doente. Junto com a falta de luz ,causada em parte pela falta de chuva, tem sido sofrida. Pelo menos preveem uma frente fria em breve. Curiosamente tem sido otimo estudar mas ferias de todo mundo. Os ônibus tem estado mais vazios e o trânsito melhor. Parece ferias, mas não é.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Paris

Querido eu,

Você já voltou a Paris? Espero que sim. Sonho com a cidade dia e noite, com os dois anos de curso básico que preciso antes de passar um ano lá pelo Ciência sem Fronteiras. Não só Paris, imagino o que deve ser viver na Europa. Imagino acordar cedo, comprar uma baguette e sair andando com ela, comer as margens do Sena, entrar nos sebos, voltar para meu pequeno studio (não sem antes passar no marché) e ir para as aulas. Sim, eu penso até nas aulas. Penso no metrô. Penso em ir no final de semana para a Itália.Ou para Londres. Ou para o interior da França mesmo. Penso tanto que enlouqueço. Ou chego perto disso.
Me sinto meio menininha e boba por sonhar com uma cidade tão desejada por tantos. Mas também carrego no peito a certeza que gosto mesmo de lá. Gosto de como eles não são tão a favor de contato humano como aqui, como as pessoas não se metem tanto na sua vida. Gosto da variedade, de como os arroundissements se diferem. Gosto como ela me conquistou, não num primeiro momento, não num sonho com a torre Eiffel e sim tão aos poucos. Gosto dessa cidade em que o Rio de Janeiro tentou tanto se inspirar.
São 2 anos. Dois anos de sonho, de dificuldades com engenharia, de curso de francês. E podem ser mais, eu sei. Talvez não seja a França. Talvez seja outro país igualmente agradável. Talvez seja a Inglaterra, também tão querida. Contudo fica o pensamento que eu nunca me sentirei tão longe e tão perto de casa como em Paris. Espero mesmo que tudo tenha dado certo para você. Acho que ninguém deseja isso mais do que eu.


RC


domingo, 6 de janeiro de 2013

Sobre a idiotice humana

Querido eu,

Você ainda se irrita com a maneira como as pessoas agem? Espero verdadeiramente que sim ou que pelo menos essa "carta" te acorde novamente. De verdade. Hoje eu ouvi gente reclamar da nossa ministra da Cultura por causa de um "suposto" projeto de lei. Suposto mesmo, não tem em lugar nenhum, mas as pessoas gostam de compartilhar essas coisas. E nele dizia que não podia mais ser obrigatório a criança participar de festas como dia dos pais e das mães e que ao invés de vir escrito nos documentos pai e mãe, viria escrito filiação. Para não causar desconforto em crianças adotadas por casais homossexuais ou que não tenham um dos pais. E as pessoas comentavam como ela está querendo destruir a família, é uma devassa e merece morrer. Dói. Dói muito. Como as pessoas acham fácil julgar e jogar uma pedra quando elas só estão pensando em si próprias. Em como elas gostam de ter mãe, pai e acham legais as festinhas. Elas não pensam que existe uma parcela da população que se sente incomodada e que é tão gente quando eles. Só que não são. Para essas pessoas, os diferentes não são gente. Deve ser bom ser branco, heterossexual de classe média. Parece fácil e digo por eu mesma. Não porque eu sou, mas porque eu sofro menos julgamento pela minha cor de pele e por ter um relacionamento estável com um homem. Queria que pelo menos soubessem olhar através da própria realidade.
Isso me deixa triste... Quase desolada.

RC